terça-feira, 3 de novembro de 2015

Morte

Eu tava dormindo. Cara, cê não vai crer no que me aconteceu: a morte entrou na minha sala para me levar. Teve que atravessar rios de pacotes vazios de coisas outrora deliciosas, caindo em uma piscininha de garrafas e latas de Coca. Eu estava dormindo, mas acordei com o barulho. Não consegui fazer nada, apenas contemplei meu fim, certo de que já havia chegado a hora. Em silêncio continuei contemplando a imponente Morte, tentando se safar do meu Monte Ruffles, sem muito sucesso. Após ela se desvencilhar de todos os pacotes, suas roupas pretas já salpicadas de amarelo (o salzinho do salgado. Santo salzinho!) Eu já havia perdido o respeito por ela.Tanta zoação com a Senhora, coitada. A face branca da morte olhou para a TV. Passava a abertura do Caminhos das Índias. Ninguém entendia 'Necas de Pitibiriba' do que a letra dizia, mas aquilo gruda na cabeça. Ela olhou para mim e viu uma alma cansada da semana, olheiras, e meu corpo estirado no sofá diante da tela com a barba por fazer e a leve protuberância na região do estômago, causada pelo meu saudável estilo de vida. Eu tomei coragem e falei:
- Você veio me buscar? Estou pronto! - Ao que ela continuou olhando. Depois, veio até a mim, me puxou pelo braço e disse:
- Vem cá meu, me dá um abraço! - E ficamos ali, chorando até ela ir embora.

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