Ela passou por mim. Sim, foi ela. a bela moça que sempre passava no finzinho da tarde e que alegrava a minha vida. A moça que tinha uma pele cor de café com leite, e um vestido florido que lhe caía até os joelhos.
As alças do florido vestido, deixavam a mostra seus ombros, tão convidativos ao carinho noturno. Era ela que passava por minha rua. seus cabelos negros ondulados, como uma maré suave, porém, forte o bastante para derrubar meu coração, já há muito amolecido. Ela tinha o cheiro das mais raras fragrâncias, que jamais eu pensara em sentir. consideraria vício meu naquele cheiro, toda vez que ela passava.
E eu? Só um rapaz normal, com uma calça suja, uma camisa amassada, e chinelas da Havaianas
(paraguaias, com certeza, nunca Havaianas mesmo!). Tentei até me arrumar na hora, e me ajeitei sobre o tamborete, que usava como cadeira.
Ela passou por mim. Aquela pele café com leite, olhos verdes clarinhos, cabelos negros ondulados, um jeito de andar sensacional e um discreto sinal na bochecha esquerda... Não fui o único que a notou. Naquela rua, todos os homens, até os enfeitiçados pelo compromisso do anelar, eram pegos numa emboscada quando ela passava. O barbeiro, cortava feio o cliente, que também não se importava; as bebidas sempre podiam esperar, quando ela passava. O padeiro que entregava pão doce, no lugar do francês; o homem na bicicleta, que quase fora atropelado, por um motorista que como ele, também estava desatento. O padre que quase esquecia dos seus votos, os velhos que deixavam cair todo o jogo de dominó dos seus colos, o garoto que, carregado pela mãe, deixava o pirulito cair da boca... Era mesmo um fuzuê, quando ela passava.
Ela passou na rua, tornando ainda mais incrível aquele pôr de sol. Elogios? Ninguém se atrevia. Até o mais sem vergonha dos homens, esquecia dos assovios e os ôhs-la-em-casas; simplesmente babávamos.
Encontrou-se, para nossa tristeza, com um fortão no fim da rua. Beijou-o e se foi na garupa de sua moto. Suspiros gerais. Logo ela saía, o barbeiro se lembrava do algodão, o barbeado, da ferida; o padeiro do pão, o padre dos votos, os casados dos anéis e o garoto chorou pelo doce... e eu, pus minha cadeira para dentro, lembrando que amanhã era tudo de novo, e que tudo mudava quando ela passava
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